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Jovens Facilitadores: o que faremos em 2015?


Como somos afetados pela violência? Quais são as violências que influenciaram e influenciam não só a maneira como nos relacionamos com outras pessoas, mas também a nossa própria constituição como pessoa? É possível ser ao mesmo tempo vítimas e agressores, reproduzindo violências que lutamos por superar?

Essas foram algumas questões que conduziram nossas discussões durante os cursos de fundamentos e práticas de justiça restaurativa realizados no CDHEP ao longo de 2014. Mais de 150 jovens e pessoas que atuam com juventude estiveram conosco partilhando suas histórias e dores, refletindo sobre injustiças e desigualdades, exercitando a escuta, enfim, construindo um espaço de acolhimento e segurança capaz de ir na contramão da reprodução de diversos tipos de violência presentes hoje em nosso cotidiano.

Este processo faz parte do projeto Jovens Facilitadores de Práticas de Justiça Restaurativa que tem como principal objetivo encontrar maneiras de enfrentar os efeitos da violência sem produzir mais violência. Para tanto prevê não só os cursos já realizados, como também acompanhamento de casos de conflito e implementação de núcleos comunitários de justiça restaurativa.

O conceito de justiça restaurativa é algo relativamente novo no Brasil. Trata-se de um conjunto de princípios e práticas que buscam lidar com situações conflituosas a partir do diálogo entre as pessoas envolvidas, visando a responsabilização e restauração do dano e não a punição. Em um processo restaurativo as pessoas são convidadas a refletir e partilhar as necessidades tanto geradoras como geradas pelo conflito, criando condições para que todos possam se implicar na restauração, responsabilizando-se por ela.

Superar a ideologia da punição como forma adequada de resolução de conflitos é um de nossos maiores desafios. Ao longo deste ano, ao lado de ativistas da região, jovens engajados em coletivos, pessoas que atuam em políticas sociais, percebemos a importância de se entender como estamos imersos em uma sociedade constituída por diversos tipos de violências e que tais violências nos constituem, estão presentes em nossos corpos e em nossas ações.

Elas normalmente são invisíveis de tão naturalizadas e estão relacionadas sobretudo ao racismo, a desigualdade, ao machismo, etc. Desnaturalizar tais violências e dar-nos conta de como elas estão presentes em nós mesmos é o primeiro passo para superar os ciclos de violências pautados na vitimização, no ódio e no desejo de vingança encobertos pelas práticas punitivas normalmente camufladas de um questionável caráter educativo ou ressocializador.

Nossa busca não é lidar apenas com conflitos interpessoais, mas sim revelar que tais conflitos envolvem muito mais do que desentendimentos entre as pessoas, são sim carregados de relações de poder, estigmas, preconceitos, dentre outras desigualdades que, embora geradas socialmente, manifestam-se nas relações cotidianas entre as pessoas.

Um conflito que emerge a partir de uma piada racista em uma escola não é um problema apenas do aluno ofendido e de seu ofensor, como habitualmente tratado, mas sim representa mecanismos sutis de reprodução do preconceito racial e de estigmatização, onde a instituição escolar não está isenta de responsabilidade; ao contrário, pode ser ela própria o espaço por meio do qual se promove o racismo. Atuar nesta dimensão portanto é nosso objetivo.

Em 2015 nossas ações estarão voltadas para organização de núcleos comunitários de justiça restaurativa. Buscaremos construir coletivamente lugares onde as pessoas possam se encontrar, compartilhar suas histórias, conflitos, dores, buscando a reparação do dano, a consciência dos efeitos da violência, o enfrentamento da perda e da dor, mas sobretudo a atuação coletiva tendo em vista superar dimensões mais amplas e estruturais da violência, como racismo, desigualdade social, machismo, etc.

Convidamos a todas e todos que se implicam no enfrentamento das violências, opressões e explorações constituintes das nossas formas atuais de organização social a fazerem parte desta construção!

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O Centro de Direitos Humanos e Educação Popular

de Campo Limpo (CDHEP) é uma organização popular que tem como objetivo promover estratégias de formação, articulação, comunicação e incidência política para prevenir e superar as diversas formas de violência, sobretudo nas periferias, e contribuir com a construção de um projeto popular, anticapitalista, antirracista e antipatriarcal para o Brasil e para a América Latina.

CDHEP

R. Luís da Fonseca Galvão, 180 - Parque Maria Helena,

São Paulo - SP, 05855-300

(11) 5512-1441

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