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Não à redução da maioridade penal

Após cerca de dois anos engavetada, o senador e relator Ricardo Ferraço (PSDB-ES) resolveu retomar a análise da Proposta de Emenda à Constituição (PEC 21/2013), que prevê a redução da maioridade penal de 18 para 16 anos.

O tema havia sido uma das principais bandeiras do ex-presidente da Câmara Eduardo Cunha (PMDB-RJ), hoje preso pela Operação Lava Jato, mas desde 2015 estava esquecido no Congresso.

Inicialmente, a ideia era de que o texto fosse incluído na pauta da Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) ainda nesta semana, porém, após inúmeras manifestações de organizações da sociedade civil e movimentos sociais contrários a PEC, os senadores adiaram a votação que aconteceria na ontem, 20 de setembro, para a próxima quarta-feira, dia 27.

O CDHEP – Centro de Direitos Humanos e Educação Popular de Campo Limpo é contra a redução da maioridade penal de 18 para 16 anos e se uni à campanha “Redução Não é Solução” para pressionar os senadores e barrar de uma vez por todas essa proposta. Clique aqui e faça a sua contribuição.

Ontem, o Ministério dos Direitos Humanos divulgou uma nota pública em que manifesta sua “profunda preocupação”, confira o texto na íntegra e entenda porque a redução não é a solução:

“A Secretaria Nacional de Cidadania do Ministério dos Direitos Humanos manifesta sua profunda preocupação em relação à Proposta de Emenda à Constituição (PEC) n° 33 de 2012, que versa sobre a redução da maioridade penal de 18 para 16 anos.

Os atos criminosos cometidos por adolescentes representam 4% do total dos crimes, sendo eles responsáveis por menos de 1% dos homicídios praticados no Brasil.

Adicione-se o colapso do sistema carcerário brasileiro, portador da quarta maior população carcerária do mundo, perdendo apenas para EUA, Rússia e China. De 1992 a 2013, o Brasil elevou a taxa de encarceramento (número de presos por grupo de cem mil pessoas) em 317,9%, sendo que 43,8% dos presos são provisórios.

Estudos do Unicef envolvendo 54 países constatou que 78% deles fixam a idade penal em 18 anos ou mais, como a França, a Espanha, a Suíça, a Noruega e o Uruguai. Nos EUA, o debate sobre a redução da maioridade penal acirrou-se nos anos 90 (como resposta à alta criminalidade), mas, desde 2005, 30 estados aprovaram normas que conferem um tratamento especial aos adolescentes em conflito com a lei — diverso do tratamento conferido aos adultos. Isso porque adolescentes tratados como adultos têm uma probabilidade maior de retornarem ao mundo do crime. Além disso, adolescentes, por estarem em peculiar condição de desenvolvimento, teriam maior potencialidade de reabilitação.

Ressalte-se que, no campo jurídico, a Constituição Federal consagra a absoluta prioridade da criança e do adolescente, bem como o dever do Estado, da família e da sociedade em assegurar-lhes direitos básicos, colocando-os a salvo de toda forma de violência, crueldade e opressão. Neste contexto, surge o direito à proteção especial dos adolescentes, incluindo a maioridade penal aos 18 anos, bem como os princípios da brevidade, excepcionalidade e respeito à condição peculiar de pessoa em desenvolvimento, quando da aplicação de qualquer medida privativa de liberdade. Por sua vez, o Estatuto da Criança e do Adolescente dedica um longo capítulo às medidas socioeducativas a serem aplicadas quando da prática de ato infracional. A redução da maioridade penal perverte a racionalidade e principiologia constitucional, na medida em que abole o tratamento constitucional especial conferido aos adolescentes. A perspectiva sociojurídica de exclusão (repressiva e punitiva, de isolamento) vem aniquilar a perspectiva de inclusão (protetiva e socioeducativa, de reinserção social). A Constituição proíbe qualquer proposta de emenda tendente a reduzir e limitar o alcance dos direitos e garantias constitucionalmente previstos, entre eles o direito à inimputabilidade penal dos menores de 18 anos.

Além de violar cláusula pétrea constitucional, a proposta afronta parâmetros protetivos internacionais, que o Estado brasileiro se comprometeu a cumprir, como a Convenção sobre os Direitos da Criança — que, de igual modo, prevê a excepcionalidade e a brevidade das medidas privativas de liberdade aplicáveis a adolescentes, bem como a exigência de tratamento pautado pela reintegração e desempenho construtivo na sociedade, quando da prática de ato infracional.

Reduzir a idade penal para confinar adolescentes na prisão com adultos não apenas viola parâmetros constitucionais e internacionais, como, ainda, carece de qualquer fundamento fático a contribuir na luta contra a impunidade”.

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